Por Mirian Leitão
Os sorrisos e a comemoração da candidata Marina Silva e seus correligionários e o desânimo do grupo que acompanhou a declaração da candidata Dilma Rousseff poderiam deixar num estrangeiro a impressão oposta aos fatos. Uma pessoa que não fale português leria a linguagem corporal das duas concluindo que Marina é que teve o maior número de votos e que Dilma é que ficou em terceiro lugar. Essa diferença de tom e clima mostra que política é mais complicado do que parece.
O governo estava convencido de que ganharia no primeiro turno. Em agosto, a candidata disse que estenderia a mão aos derrotados num claríssimo momento de salto alto. A convicção da vitória vinha da popularidade do presidente da República. Ele se sentia um Midas. O PT tem muito a comemorar na Bahia, no Rio Grande do Sul, em vários outros estados, mas perdeu os dois maiores colégios eleitorais do país: Minas e São Paulo. Em Minas, a derrota do PT foi completa: perdeu o governo e as duas vagas ao senado. Dois dos melhores quadros do partido no país ficaram sem mandato: Patrus Ananias e Fernando Pimentel.
Marina sai dessa derrota como uma grande força política, sai conquistando o que se propôs: primeiro, quebrar o plebiscito que o presidente Lula tinha decidido que ocorreria nesta eleição; segundo, incluir outros temas na agenda; terceiro, mostrar que a questão ambiental não é samba de uma nota só, mas um tema que integra todos os outros.
Os institutos de pesquisa têm muito a aperfeiçoar dos seus métodos porque passaram os últimos meses garantindo que a candidata Dilma Rousseff ganharia no primeiro turno. E só nos últimos dias é que começaram a dizer que a situação estava indefinida, mas nenhum apontou o que houve de fato em termos de votos válidos. Há pouco mais de uma semana ainda apontavam percentuais de 11% a 13% para Marina Silva. Para Senador em SP ninguém tinha previsto Aloysio Nunes Ferreira com a primeira vaga.
Dilma Rousseff mantém seu favoritismo, mas nada está garantido de véspera. Tudo dependerá da capacidade dela de atrair parte dos eleitores de Marina Silva. José Serra tem o desafio de unir o partido, integrá-lo em sua campanha, não fazer uma campanha tão auto-centrada, e tentar atrair o apoio de Marina Silva. Como a própria candidata do Partido Verde disse, o voto é do eleitor e não do candidato. Ela pode apoiar um ou o outro, ou ficar neutra, seu eleitor não vai segui-la cegamente, como nunca seguiu ninguém. Mas é interessante o movimento do Partido Verde de decidir para onde ir em uma reunião plenária e com um programa na mão.
Ganhará essa eleição quem tiver entendido as muitas lições que os resultados trouxeram.
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